I Colóquio Internacional de Cinema e História
Escola de Comunicações e Artes
29 de novembro a 2 de dezembro de 2016
Justificativa
A relação entre cinema e história, apesar de ser uma preocupação presente desde o surgimento do próprio cinema no final do século XIX, tornou-se um tema mais frequente na academia a partir dos anos 1970, com os estudos de Marc Ferro. Este historiador, ao elevar o cinema à categoria de “objeto” da história, iniciou um campo de pesquisa que passou a debater metodologias e formas de análise que concedem aos filmes o status de documento, reconhecendo seu potencial como fonte para o conhecimento historiográfico. As críticas dirigidas posteriormente à obra de Ferro – como à sua crença de que há uma “realidade” que pode ser apreendida no filme pelo historiador, independente dos procedimentos cinematográficos utilizados – deram continuidade ao desenvolvimento desse campo, cujas balizas metodológicas seriam ditadas ainda por nomes como Pierre Sorlin, Michèle Lagny, Antoine De Baecque, Christian Delage, Sylvie Lindeperg, Robert Rosenstone, Tom Gunning, entre outros. No Brasil, destaca-se a importância da obra de Ismail Xavier, que prima pela análise estética articulada aos aspectos políticos e culturais propostos pelos objetos com os quais trabalha.
Todos esses autores têm em comum a preocupação em considerar a análise fílmica o elemento chave para aceder às questões políticas, sociais e culturais das sociedades. Assim, pode-se dizer que o filme, em sua especificidade enquanto fonte histórica, deve ser submetido pelo pesquisador a um exame que considere suas particularidades estéticas (roteiro, decupagem, montagem, banda sonora, diálogos etc.) sem deixar de lado aspectos extrafílmicos que contribuam para sua compreensão enquanto objeto produzido em um determinado tempo/espaço. Se há certas premissas que definem esse campo de estudo, cada objeto, porém, exige o desenvolvimento de metodologias que deem conta de suas características próprias.
Desde 2005, o grupo de pesquisa CNPq “História e Audiovisual: circularidades e formas de comunicação”, coordenado pelos professores Eduardo Morettin (ECA-USP) e Marcos Napolitano (FFLCH-USP), promove seminários regulares e abertos, realizados na ECA-USP, com o objetivo de reunir professores universitários e do ensino médio e fundamental, pesquisadores e estudantes interessados nos estudos das relações entre o audiovisual e a história (o site do grupo pode ser acessado no link: http://historiaeaudiovisual.weebly.com; a página no CNPq é http://dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/5234354049470448). Outro espaço de encontro frequente tem sido os simpósios organizados a cada dois anos pela Associação Nacional de História (Anpuh), nos quais o grupo está presente com seminários temáticos que possibilitam a incorporação de contribuições vindas de pesquisadores de todo o Brasil, tendo marcado presença também nos eventos científicos promovidos pela Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (SOCINE).
A proposta de organizar o I Colóquio Internacional de Cinema e História pretende, portanto, consolidar um debate que já vem sendo realizado há mais de 10 anos, dando espaço para a apresentação de trabalhos de vários pesquisadores ativos nesse campo. O Colóquio busca também colocar essas pesquisas em contato com aquelas de convidados nacionais e internacionais atuantes em outros centros. Por fim, pretende-se ainda criar um espaço aberto a novas pesquisas em desenvolvimento (sobretudo de estudantes de pós-graduação e de pós-doutorandos). Dessa forma, procura-se promover uma troca que enriqueça os estudos das relações entre audiovisual e história.
É necessário ressaltar que não se trata de definir um único caminho metodológico para abordar as relações entre cinema e história, mas de debater certas premissas que possam consolidar esse campo, que desperta cada vez mais interesse no Brasil. Tendo em vista essa abertura para a diversidade de propostas temáticas e metodológicas, o comitê de organização definiu quatro linhas diferentes de pesquisa, nas quais os trabalhos poderão ser apresentados e que se encontram indicados abaixo, junto com o call for papers. Elas sintetizam alguns dos eixos que definem as preocupações dos pesquisadores da área nos últimos anos.